O dia que não vi Goku ser Super Sayajin 3. O anime foi cortado.
OBS: Leia essa crônica como se eu fosse a criança de 11 anos
de idade que tinha na época.
Isso já faz 14 anos, parece ontem. Eu era um menino de 11
anos na época. Lembro-me que minha maior preocupação era saber quando o Goku
seria revivido pois estava chato essa história dele ficar por alguns momentos
na Terra. Eu também me preocupava com outros assuntos como escola, videogame,
futebol com meus colegas, mas nada se comparava ao fato de finalmente poder
conhecer os poderes de um Super Sayajin 3.
Vídeo não original que representa mais ou menos o que
aconteceu.
Nesse dia havia ficado chateado. Por muito tempo esperei por
uma briga descente nessa fase do anime e do nada, simplesmente, a Globo resolve
cortar para colocar imagens de um jornalista narrando que estava pegando fogo
em um prédio. Até tinha pensado que isso acontecera em minha cidade. Fui para o
lado de fora no quintal para ver se enxergava o tal prédio – que só existia um
na cidade – pegando fogo. Como não vi nada, retornei a sala torcendo para que a
Globo parasse de mostrar o prédio pegando fogo. Não entendia que raios o canal
queria mostrar fogo em vez de desenho, tentava entender o motivo de ainda não
terem chamado os bombeiros e por que uma pessoa ia querer passar com um avião
dentro de uma torre. Até cheguei a me perguntar se a pessoa queria talvez
passar no meio das duas torres e talvez sem querer tivesse batido o avião.
Sem contar que o Plantão Globo me dava medo – e ainda me dá.
Lembro até hoje do dia que quase tive um infarto quando trocou para o horário
de verão e logo após veio o anuncio da morte cerebral de Eloá no plantão – sim,
eu também tenho medo da troca de horário normal para o de verão da Globo.
Imagina os dois juntos.
O tempo passava, a hora de se arrumar para a escola chegava
e em um ato de desespero, resolvi trocar para o SBT que no horário passava
outros desenhos, não queria outros, queria meu Dragon Ball, era só nisso que
pensava. Não via a hora de apagarem o fogo e devolverem meu desenho. Foi quando
notei que todas as Tvs passavam a droga do prédio pegando fogo e quando votei
para a Globo e vi um outro avião simplesmente bater no outro prédio. Quando vi
isso, desanimei. Percebi que naquele dia nunca veria o tal do Super Sayajin 3.
Não havia mais como resolver o problema, achei melhor
dar mais atenção àquilo que acontecia. Foi a primeira vez em minha vida que
ouvi as palavras Terrorismo, Al Qaeda, Osama Bin Laden sendo colocadas na mesma
frase – muito bem noticiadas por Carlos Nascimento. Estava pasmo, tentando
entender o porquê das pessoas começarem a simplesmente pular de tão alto se as
mesmas poderiam usar as escadas ou o elevador. Algumas vezes as câmeras
filmavam essas pessoas pulando. Eu até imaginava que tinha alguém lá embaixo
que estivesse pegando com um colchão ou sei lá o que.
O primeiro momento mais estranho aconteceu: Vi uma torre
cair.
Carlos nascimento tinha estranhado aquilo. Ele narrou de uma
maneira como se não tivesse entendido ou melhor, acreditado.
Enquanto isso, as câmeras às vezes mostravam outras pessoas
caindo do prédio que ainda estava de pé.
De repente, minha mãe aparece em casa. Ofegante. Não havia
entendido o motivo de ela ter saído mais cedo do trabalho – anos depois ela me
contou que havia me visto completamente paralisado na televisão, como se eu
estivesse sem entender o motivo, mas compreendendo as consequências daquilo, e
que foi para lá justamente me retirar da frente da TV, já que ela imaginava que
eu estaria em choque vendo aquelas cenas.
Quando estava terminando de me trocar, ouvi um “Meu Deus do
céu” de minha mãe. Quando fui ver o que acontecia, vi outro prédio cair. Minha
mãe praticamente me expulsou de casa, disse que era pra eu ir logo à escola
para eu me divertir com meus amigos.
Ao chegar, os professores não falavam nada sobre o que
aconteceu. Mesmo quando perguntávamos eles desconversavam. Colocaram vários
exercícios gigantescos no quadro, nos fizeram assistir filmes e desenhos o dia
todo e nenhum deles estavam nas salas de aula.
Quando cheguei em casa, minha mãe estava na mesma posição na
qual ficou quando fui para a escola. Na televisão só mostrava poeira e
perguntei a ela se meu desenho tinha passado, ela disse que não sabia.
No outro dia, Dragon Ball foi exibido normalmente.
Depois de um tempo, estudei muito sobre o 11/09. Sabe aquele
dia estranho que passei? Até hoje me vem na cabeça as memórias das pessoas se
jogando.
Que a paz reine em nosso planeta.